Impacto da espécie exótica invasora Casuarina na biodiversidade

As espécies exóticas, tanto da fauna quanto da flora, são espécies retiradas de seu local originário e introduzidas fora de sua área de distribuição natural, tendo como intermédio a ação humana. A introdução, ocorrendo de maneira intencional ou acidental, pode trazer imensuráveis impactos à biodiversidade, à economia e à saúde, quando sobressaem entre as espécies nativas, danificam meios de produção ou tornam-se vetores para doenças.

O grande problema das espécies exóticas é quando se transformam em invasoras, causando desequilíbrio dos ecossistemas. Por estarem em um ambiente com diferentes condições bióticas e abióticas não possuem métodos naturais que realizem o controle de crescimento, havendo um aumento considerável da população, acabam competindo por recursos naturais (abrigo, alimento, água) com espécies nativas e impactam diretamente a biodiversidade local.

Um excelente exemplo disso na flora são as casuarinas. Conhecidas pelo silvo característico produzido na presença de ventos, as casuarinas (Casuarina equisetifolia) de origem australiana, foram introduzidas na restinga com intuído de formar quebra-ventos nas praias, fixar dunas e para ornamentar as ruas, sendo largamente distribuída por grande parte do litoral brasileiro. Essa ampla distribuição acelerou o processo de invasão da espécie e acarretou um enorme problema nacional.

Casuarinas são árvores consideradas extremamente agressivas no nosso ecossistema, visto a sua alta capacidade para dispersão, rápido desenvolvimento, resistência à diversos fatores climáticos, a solos salinos, secos e pobres em nutrientes. As sementes de casuarina, são produzidas em ampla escala, espalhadas pelo vento e água, podendo perdurar viáveis no solo por longos anos, suportando elevadas temperaturas e condições de luz, permitindo sua germinação, crescimento e estabelecimento. Devido essas características, são umas das mais preocupantes espécies invasoras para a biodiversidade das restingas.

As casuarinas são as principais eliminadoras de espécies nativas nas dunas, sendo comprovado que em locais com sua presença as espécies nativas são significativamente menores ou até ausentes, isso porque, além dessa espécie formar sombras no solo, o que dificulta o processo de fotossíntese das plantas nativas, ela também possui estratégia de alelopatia, que consiste na liberação de toxinas no solo através das folhas das árvores, impedindo a germinação de outras espécies, como a douradinha (Pleoroma asperior), espécie encontrada apenas no Rio Grande do Sul, considerada em perigo de extinção.

Além do impacto negativo nas espécies da vegetação litorânea, podem impactar também a fauna. Devido suas resistentes e densas raízes que se espalham pelo solo, as tartarugas são afetadas principalmente quanto à construção de ninhos para postura de ovos. Outro animal que sofre com a presença dessas árvores na restinga são os tuco-tuco (Ctenomys minutus), roedores endêmicos do litoral sul do Brasil, que habitam terrenos arenosos e planos. O enraizamento denso e fibroso da árvore pode atrapalhar a construção de tocas e galerias, além dessas árvores impedirem o crescimento de outras espécies nativas da vegetação, base da alimentação para esses animais.

Para controle do alastramento de casuarinas no Rio Grande do Sul, a Portaria da SEMA nº79/2013 incentiva a adoção de medidas preventivas para a erradicação ou controle das espécies exóticas invasoras e proíbe o uso em plantios e cultivos, principalmente em área de preservação permanente (APP).

 

Por:

Danielle Rampinelli – Bióloga

Colaboradora da Licenciar Consultoria Ambiental

 

 

 

REFERÊNCIAS

ZIMMERMANN, Thalita Gabriella. Potencial de Invasão das Restingas por Casuarina equisetifolia L.: Fatores que Limitam a Regeneração da Vegetação. 2016. Tese de Doutorado. Tese 192 f., Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Escola Nacional de Botânica Tropical, Rio de Janeiro.

SEMA, Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Portaria Nº 079, de 31 de outubro de 2013. Reconhece a Lista de Espécies Exóticas Invasoras do Estado do Rio Grande do Sul e demais classificações, estabelece normas de controle e dá outras providências.

ARRIAL, Luiz Gustavo Ramos et al. CASUARINA (Casuarina equisetifolia L.): OS RISCOS DA ESPÉCIE EXÓTICA INVASORA PARA A RESTINGA DO CABO DE SANTA MARTA, LAGUNA-SC1.