A Lagoa do Violão em Torres é um dos cartões postais da cidade, enriquecendo a região central com sua beleza natural e histórica. Com cerca de 2 km² de extensão, seu formato peculiar lembra um violão, o que inspirou seu nome. Além de sua importância paisagística, a lagoa é um refúgio para diversas espécies da fauna e flora, onde podemos observar peixes, cágados e diversas aves em um ambiente natural.
Localizada no centro de Torres, a Lagoa do Violão é rodeada pela Avenida José Maia Filho, pavimentada e iluminada, com uma ciclovia que atrai moradores e turistas. A passarela Jaime Pozzi liga os bairros do Centro a Praia da Cal, facilitando o acesso e promovendo um ambiente ideal para passeios e atividades ao ar livre, como caminhadas e corridas.
Além de sua beleza e estrutura, a lagoa é um verdadeiro refúgio para a biodiversidade. Ao longo de sua orla, cresce uma rica variedade de árvores nativas que contribuem para a fauna local, ao fornecer abrigo e alimento. Entre as espécies nativas que adornam a orla, encontramos:
Araçazeiro (Psidium cattleyanum): é uma árvore de pequeno porte, com altura variando entre 3 e 6 metros, ideal para pomares domésticos e recuperação de áreas degradadas. Floresce entre fevereiro e março, atraindo abelhas, mandaçaias e outros polinizadores, e frutifica de abril a maio. Seus frutos, semelhantes a pequenas goiabas, são conhecidos nos Estados Unidos como “goiaba-morango”. Os frutos apresentam sabor doce-ácido e suculento, sendo ricos em vitamina C e usados na produção de refrescos, doces e licores. Muito apreciados pela fauna, como aves e macacos, seus frutos ajudam na dispersão das sementes.
Aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolia): É uma espécie amplamente distribuída na região costeira do Brasil, podendo ser encontrada em biomas como Cerrado, Mata Atlântica e Pampa podendo chegar até 15 metros de altura. Suas flores brancas atraem abelhas, enquanto seus frutos vermelhos e aromáticos são utilizados como condimento na culinária (pimenta rosa) e apreciados pela fauna. A frutificação ocorre entre abril a julho. A espécie tem alto valor econômico e é recomendada para o paisagismo urbano e restauração de áreas degradadas.
Butiá (Butia catarinenses): É uma palmeira de porte médio que pode atingir até 7 metros de altura sendo cultivada principalmente no Brasil, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, além do Paraguai, Argentina e Uruguai. Possuem alto valor econômico e cultural devido a seus múltiplos usos. Suas folhas são longas e seus frutos carnosos, de cor laranja e com uma única semente, são usados na produção de geleias, licores e cachaças, além de serem consumidos in natura. O óleo das sementes também é utilizado para fabricação de sabão e as raízes possuem propriedades anti-inflamatórias. As folhas são muito utilizadas para fabricação de chapéus, roupas, telhados, colchões e vassouras.
Figueira (Ficus cestrifolia): A Ficus cestrifolia é uma espécie arbórea nativa da América do Sul, ocorrendo principalmente no Brasil (nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste), bem como no Uruguai. O gênero Ficus é conhecido por sua diversidade e importância ecológica, especialmente pela interação com polinizadores específicos. Esta figueira é encontrada em ambientes como matas ciliares e áreas de floresta, desempenhando um papel fundamental na manutenção da biodiversidade local. Seus frutos, pequenos e consumidos por diversas espécies de aves, ajudam na dispersão das sementes, promovendo a regeneração de florestas degradadas.
Figueira (Ficus luschnathiana): Também conhecida como figueira-brava, é uma árvore nativa da Mata Atlântica. Pode atingir de 10 a 20 metros de altura. Seus frutos pequenos, arredondados e de coloração avermelhada a arroxeada, servem de alimento para diversas espécies de aves e pequenos mamíferos, desempenhando um papel importante na dispersão de sementes. A planta é valorizada na arborização urbana e em projetos de recuperação ambiental, devido à sua resistência e capacidade de atrair fauna nativa.
Ingá-feijão (Inga marginata): Sua altura varia entre 5 e 15 metros, destacando-se por suas folhas compostas e inflorescências de flores brancas e perfumadas. Seus frutos, em forma de vagens lisas, contêm sementes envoltas em uma polpa branca, doce e comestível, amplamente consumida pela fauna. É utilizada para arborização urbana, recuperação de áreas degradadas e em sistemas agroflorestais. A madeira é empregada na carpintaria e caixotaria, e as partes da planta, como folhas e casca, têm usos medicinais populares devido às suas propriedades antissépticas e adstringentes.
Jerivá (Syagrus romanzoffiana): É uma palmeira encontrada em toda mata atlântica, mas também podendo ser encontrada em outros biomas do Brasil. Os frutos amadurecem de outubro a novembro no Rio Grande do Sul, sendo consumida tanto por animais silvestres quanto por seres humanos, que aproveitam o sabor doce da fruta. Além do consumo da fruta, sua semente é rica em proteínas, fibras alimentares e selênio, embora possam apresentar alguns riscos associados a alta concentração de cobre, quando consumidas in natura. A palmeira é amplamente utilizada no paisagismo e é valorizada por sua floração intensa entre setembro e março, com uma segunda floração no inverno. Na medicina popular é utilizada como diurético e para casos de diarreia, além de ser apreciada pelo palmito, que embora amargo, é consumido em algumas regiões.
Mangue-do-mato (Clusia criuva): Suas folhas são discolores e verdes, pode chegar a 20 metros de altura com flores de botões verde-avermelhados, cálices verdes e corolas brancas. Os frutos emitem um odor agradável. É conhecida por sua resistência a ambientes de alta salinidade, sendo encontrada em áreas de restinga, manguezais, dunas, e solos rochosos, desde a base até o pico de encostas. A espécie ocorre principalmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, onde aparece em diversas formações vegetais típicas da mata litorânea. Com rápido crescimento, a árvore atinge a fase adulta em cerca de cinco anos.
Mulungu-do-litoral (Erythrina speciosa): Uma árvore nativa da Mata Atlântica, mas com ocorrência exótica para o estado do Rio Grande do Sul. Conhecida por suas flores vermelhas em forma de candelabro, que atraem beija-flores. Com porte de 3 a 5 metros, seu tronco espinhento e suas grandes folhas em formato de losango caem no inverno, ficando sem folhagem durante a floração no final do inverno e início da primavera. Além de sua beleza ornamental, oferece boa sombra no verão e permite a passagem de luz no inverno. É cultivada em solos férteis e úmidos, preferencialmente à beira de rios ou em terrenos brejosos.
Paineira (Ceiba speciosa): é uma árvore de até 30 metros, nativa do Brasil e Bolívia, conhecida pelo tronco esverdeado com espinhos robustos e base alargada. Suas folhas palmadas caem durante a floração, que ocorre de dezembro a abril, revelando flores grandes com pétalas rosadas ou brancas. Os frutos amadurecem entre agosto e setembro, liberando sementes envoltas em paina, uma fibra leve utilizada na dispersão e em artesanato. É cultivada a pleno sol e atrai aves como beija-flores e papagaios, que se alimentam de suas sementes e flores.
Pitangueira (Eugenia uniflora): É uma espécie frutífera que possui grande importância econômica e medicinal. Possui uma madeira compacta, resistente e de boa durabilidade natural. Seus frutos são muito utilizados na fabricação de alimentos como sorvetes, refrescos, geleias, licores e vinhos. Os frutos possuem coloração laranja a vermelha, ocorre nos meses de setembro a novembro, muito utilizado na dieta da fauna. A floração ocorre nos meses de agosto a outubro, com flores brancas e levemente perfumadas.
Essas árvores nativas desempenham um papel ecológico essencial, ajudando a preservar a biodiversidade da região e fornecendo suporte à fauna local, como aves, pequenos mamíferos e insetos polinizadores.
Apesar da predominância de espécies nativas, algumas árvores exóticas também são encontradas na orla da Lagoa do Violão, principalmente devido ao paisagismo urbano. Um exemplo é a Figueira-benjamin (Ficus benjamina), uma árvore asiática popular em áreas urbanas brasileiras. Embora forneçam sombra, essas árvores não beneficiam o ecossistema local da mesma forma que as nativas.
Um risco significativo são as espécies exóticas invasoras, que podem se espalhar rapidamente e prejudicar a vegetação nativa. Essas espécies alteram o equilíbrio dos ecossistemas ao competir com a flora local por recursos, modificar o solo e afetar negativamente os habitats naturais. Esse impacto pode comprometer a biodiversidade e a saúde ambiental de áreas vulneráveis, como zonas costeiras e margens de corpos d’água. (ZIMMERMANN, 2016).
Evitar o plantio de espécies exóticas e invasoras é essencial para preservar a integridade ecológica da Lagoa do Violão. As plantas invasoras competem com as nativas por recursos, alteram a composição do solo e afetam o habitat natural de muitas espécies locais. Assim, o manejo dessas plantas é fundamental para a preservação do local (ZILLER, 2001).
Algumas espécies exóticas que ocorrem na Lagoa do Violão:
Amoreira (Morus nigra): A amora é uma planta originária das regiões temperadas da Ásia, que, apesar de não ser nativa do Brasil, tem se adaptado bem em várias regiões do país. Não sendo uma espécie invasora, a amora desempenha um papel importante para a fauna local, oferecendo alimento para diversas espécies de aves. Seus frutos são altamente nutritivos e podem ser consumidos de diversas formas. Sua capacidade de adaptação a diferentes condições de cultivo faz dela uma opção popular em áreas urbanas.
Espirradeira (Nerium oleander): Originária do Mediterrâneo, é uma planta ornamental com flores vibrantes em tons de branco, rosa vermelho e amarelo. É frequentemente cultivada em jardins, especialmente em canteiros ao sol. Embora seja popular pela sua beleza, a esperradeira é extremamente tóxica, com toda suas partes apresentando substâncias como oleandrina e neriantina, que podem causar intoxicações. Seu porte varia entre 2 e 5 metros, a planta deve ser manipulada sempre com o uso de luvas para evitar o contato em sua seiva.
Figueira-benjamim (Ficus benjamina): É uma árvore ornamental originária da Malásia. Com crescimento rápido, pode atingir até 30 metros em ambientes externos, mas em interiores seu tamanho é mais controlado. Suas folhas verdes e brilhantes são pequenas e perenes, proporcionando uma densa cobertura. É amplamente cultivada em jardins e como planta de interior, adaptando-se bem a ambientes com luz indireta ou sol pleno. Além de ser decorativa, atrai pássaros com seus pequenos frutos vermelhos e requer solo bem drenado e regas regulares para se desenvolver de forma saudável.
Goiabeira (Psidium guajava): É uma árvore frutífera nativa de toda a América, exceto México e Canadá. Com uma altura de até 7 metros, ela se destaca por suas folhas aromáticas e flores brancas, além dos frutos da goiabeira que podem ser consumidos frescos ou transformados em compotas e geleias. Os frutos da goiabeira são ricos em vitamina C, superando até a laranja e o limão. A planta é polinizada principalmente por abelhas, como as do gênero Centris e Xylocopa. Além de ser valiosa na alimentação, a goiabeira possui propriedades medicinais, sendo utilizada no tratamento de diarreias e inflamações da boca e garganta. Sua frutificação ocorre de dezembro a março, e é atraente para diversas aves, como periquitos e saíras.
Jamabolão (Syzygium sp.): É uma árvore originária da Índia. Adaptada aos climas tropicais, pode alcançar até 10 metros de altura e é comumente encontrada em áreas urbanas do Brasil, especialmente no Sul e Sudeste, sendo usada como planta ornamental. Seus frutos, que se assemelham a pequenas bagas pretas, são consumidos in natura ou transformados em produtos como geleias, bebidas fermentadas e vinagre. Além disso, as folhas e casca do jambolão são valorizadas na medicina popular, sendo utilizadas para fins terapêuticos, como o fortalecimento do sistema imunológico e o controle de problemas digestivos. O jambolão também é rico em antioxidantes, vitaminas e minerais, oferecendo benefícios à saúde cardiovascular.
Palmeira-real (Archontophoenix cunninghamiana): Nativa da Austrália é uma espécie elegante que pode atingir de 15 a 20 metros de altura. Com um estipe único e anelado, é bastante apreciada no paisagismo urbano no Brasil, onde é usado tanto isolado quanto em grupos. Durante o verão produz pequenos frutos vermelhos que atraem a fauna local. Além de suas qualidades ornamentais, a palmeira-real também é cultivada para a produção de palmito.
Pinheiro-de-norfolk (Araucaria heterophylla): Uma árvore nativa da Ilha de Norfolk, na Austrália. Essa árvore de grande porte pode atingir entre 50 e 80 metros de altura e é perenifolía, ou seja, mantém suas folhas durante todo o ano. Os frutos, pinhas ovoides ou globosas, amadurecem de setembro a outubro. É uma árvore que prefere climas amenos, com temperaturas entre 13 e 18°, e é bastante utilizada no paisagismo, além de ser tradicionalmente uma árvore de natal.
Plátano (Platanus occidentalis): Originária da Eurásia e da América do norte, adaptadas aos climas subtropical e temperado. Elas podem alcançar 40 metros de altura e são valorizadas por sua beleza ornamental. As folhas lobadas, que ficam avermelhadas no outono, lembram as do bordo, mas os plátanos se distinguem por suas inflorescências globosas e pela ausência de resina. A árvore tem um rápido desenvolvimento e é associada a mitos gregos, sendo mencionada em diversas lendas e no contexto da Academia de Platão.
A flora nativa da Lagoa do Violão é adaptada às condições locais e ajuda a manter o equilíbrio ambiental. Plantar e preservar essas espécies é essencial não só para a manutenção da biodiversidade, mas também para preservar a identidade ecológica e cultural da região. Além disso, as árvores nativas demandam menos manutenção e ajudam a promover a sustentabilidade ambiental no longo prazo.
Diversos estudos têm mostrado os benefícios da arborização urbana, com destaque para Shinzato (2009), que discute a influência positiva das árvores no microclima das cidades. De acordo com Mascarello, Barbosa e Assis (2017), a arborização urbana tem um impacto significativo na redução de temperatura, na permeabilidade do solo e no aumento da umidade através dos ventos, além de promover benefícios sociais e estéticos. Esses aspectos são fundamentais para o planejamento urbano, especialmente em um contexto de mudanças climáticas.
Visitar a Lagoa do Violão é mais do que apreciar a paisagem: é uma chance de conhecer a biodiversidade e contribuir para a preservação de um ambiente que faz parte da história e da cultura de Torres.
Por:
Isadora Brocca
Estagiária de Ciências Biológicas da Licenciar Consultoria Ambiental
REFERÊNCIAS
ADAMS FILHO, N. História de Torres Aspectos Vol I e Vol II. Porto Alegre – RS: Ed. Edigal, 2021.
MASCARELLO, A. V. S.; BARBOSA, L.; ASSIS, E. S. de. Efeitos da vegetação viária no conforto térmico urbano. In: XIV Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído, 2017, Balneário Camboriú, SC. XIV ENCAC & X ELACAC: Habitat Humano: em busca de conforto ambiental, eficiência energética e sustentabilidade no século XXI. Camboriú: ANTAC/UNIVALI, 2017. v. 1. p. 367-376.
ROSSETO, V.; SAMPAIO, T. M.; OLIVEIRA, R.; GRALA, K. Aroeira-vermelha. Disponível em <https://sites.unipampa.edu.br/programaarborizacao/aroeira-vermelha/>. Acesso em 29, novembro e 2024.
Rosseto, V.; Sampaio, T. M.; Oliveira, R.; Grala, K. O braquiquito. Disponível em: <https://sites.unipampa.edu.br/programaarborizacao/araucaria-excelsa/>. Acesso em 09, dezembro de 2024.
SAMPAIO, Leonardo Kumagai Antunes. Etnobotânica e estrutura populacional do butiá, Butia catarinensis Noblick & Lorenzi (Arecaceae) na comunidade dos Areais da Ribanceira de Imbituba/SC. 2011. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Florianópolis.
SHINZATO, P. O impacto da vegetação nos microclimas urbanos. 2009. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
ZIMMERMANN, T. G. Potencial de invasão das restingas por Casuarina equisetifolia L.: fatores que limitam a regeneração da vegetação. 2016. 192 f. Tese (Doutorado em Botânica) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
ZILLER, S. R. Os processos de degradação ambiental originados por plantas exóticas invasoras. Revista Ciência Hoje, [s. l.], v. 30, n. 178, p. 77-79, 2001.